segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Salvação em Processo

Venho esclarecer o termo "salvação em processo", termo esse muito usado em estudos acadêmicos.

O primeiro ponto a esclarecermos é que o estudo "Aspectos da Presença de Deus" foi direcionado a um grupo de alunos que aparentemente já haviam feito um estudo em Soteriologia, e que, portanto, já haviam estudado a "Ordo Salutis".

No meio reformado, geralmente, principiamos a ordo salutis (ordem da salvação) com a regeneração e, assim salientamos o fato de que a aplicação da obra redentora de Cristo é, em seu início, uma obra de Deus. Segue-se a isto uma discussão da conversão, na qual a obra da regeneração penetra na vida consciente do pecador, e ele se volta do ego, do mundo e de Satanás para Deus. A conversão inclui o arrependimento e a fé, devido a sua grande importância, esta é estudada separadamente. A discussão da fé leva naturalmente à discussão da justificação, considerando que esta é mediada pela fé. E porque a justificação coloca o homem numa nova relação com Deus, levando junto consigo a dádiva do Espírito de adoção e impondo ao homem uma nova obediência, e também lhe dando capacidade para fazer de coração a vontade de Deus, a obra da santificação é considerada logo a seguir. Finalmente, conclui-se a ordem da salvação com a doutrina da perseverança dos santos e sua glorificação final.

Segundo, quando falamos na santificação como sendo "salvação em processo" estamos fazendo alusão à Economia da Redenção, ou seja, o plano ou propósito de Deus em relação à salvação dos homens. Neste contexto, santificação (salvação em processo) é "a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão". É uma mudança contínua operada por Deus em nós, livrando-nos dos hábitos pecaminosos e formando em nós afeições, disposições e virtudes semelhante às de Cristo. Isso não significa que o pecado seja instantaneamente erradicado, porém é mais do que uma ação contrária pela qual o pecado seja apenas restringido ou reprimido, sem ser progressivamente destruído. A santificação é uma real transformação.

Não podemos confundir santificação (salvação em processo) com regeneração. Visto que, regeneração é nascimento e santificação é crescimento. A regeneração é um ato instantâneo de Deus, que leva a pessoa da morte espiritual para a vida. É uma obra exclusiva de Deus. A santificação (salvação em processo) é um processo constante, que depende da ação contínua de Deus no crente, e consiste na contínua luta do crente contra o pecado.

Não podemos confundir santificação (salvação em processo) com justificação. Visto que, a justificação é um ato transitório, enquanto que a santificação é uma obra progressiva. A justificação é um ato forense, agindo Deus como juiz, declarando satisfeita a justiça relativa ao pecador crente, enquanto que a santificação é um efeito devido à eficácia divina. A justificação modifica ou declara modificada a relação do pecador com a justiça de Deus; a santificação envolve a mudança de caráter. A primeira (justificação), portanto é objetiva; e a segunda (santificação) subjetiva. A primeira baseia-se no que Cristo fez por nós; a segunda, no efeito do que ele faz em nós. A justificação é completa e igual em todos; enquanto que a santificação é progressiva, e é mais completa em alguns do que em outros.

Como dissemos, na santificação (salvação em processo), Deus está exercitando sua tarefa de purificar e restaurar o seu povo até que tudo se complete. Nas palavras do apóstolo Paulo, "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" Fp 1.6. O propósito salvador de Deus será completado no "Dia de Cristo", quando ele retornar em glória para ressuscitar o seu povo dentre os mortos.

Soli Deo Gloria!

José André Lourenço

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