terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um pouco sobre Herman Dooyeweerd


Herman Dooyeweerd nasceu em Amsterdã em 1894, filho de pais Calvinistas. Em 1912 ele se matriculou como um estudante de direito na Universidade Livre de Amsterdã, uma instituição Cristã fundada em 1880. Cinco anos mais tarde obteve o doutorado em direito. A Dissertação de Dooyeweerd, De Ministerraad em Nederlandsche Staatsrecht (O Parlamento na Lei Constitucional holandesa) foi escrita sob a supervisão de D.P.D. Fabius, um teorista constitucional. De 1918 até 1921 Dooyeweerd trabalhou no Departamento holandês do Trabalho como um escrivão legislativo. Do final de 1921 até à metade de 1926 serviu como diretor assistente da recentemente organizada Fundação Dr. Abraham Kuyper, um órgão de pesquisa e ação política do Partido Anti-Revolucionário dos Países Baixos. Lá ele foi responsável não só pelo encaminhamento dos assuntos imediatos de política que surgiam diante do Partido Anti-Revolucionário, mas também pela elaboração dos princípios Calvinistas de lei, política, e sociedade sobre os quais o Partido tinha sido estabelecido cerca de 80 anos antes. Foi ao se desincumbir desta responsabilidade - uma responsabilidade em que ele mesmo insistiu - que Dooyeweerd começou (1) a estudar sistematicamente as teorias Calvinistas tradicionais do direito, política, e sociedade; (2) a explorar as estruturas e organização de várias sociedades históricas; e (3) se empenhar criticamente numa grande variedade de teorias presentes e passadas de lei, política, e sociedade. Seu trabalho nestes quatro anos culminou em cinco artigos principais, incluindo um tratado de quinze partes, "Na Luta por uma Política Cristã" [Herman Dooyeweerd, "In den strijd om een Christelijke Staatkunde. de Proeve een fundeering der Calvinistische levens- en wereldbeschouwing in hare Wetsidee," I Antirevolutionaire Staatkunde (daqui em diante A.R.S.) 7-25 62- 79, 104-118, 161-173, 189-200, 228-244, 309-324, 433-460, 489-504, 528- 542 581-598, 617-634, (1924-5); 2 A.R.S. 244-65, 425-445 (1926). A.R.S. era o jornal mensal da Fundação Dr. Abraham Kuyper, que Dooyeweerd editou por vários anos. Este trabalho aparecerá como o volume B5 das Obras Completas de Dooyeweerd.] e uma importante monografia sobre “O Calvinismo e Lei Natural” (contido no volume B1 das Obras Completas de Dooyeweerd).

Em 1926 Dooyeweerd retornou à sua alma mater como um professor de filosofia do direito, história do direito holandês, e enciclopédia de leis. Ele reteve esta posição até sua aposentadoria em 1965. Nos primeiros cinco ou seis anos de sua docência, ele mudou o enfoque de sua pesquisa e publicações dos assuntos mais gerais de teoria política e social Calvinista para perguntas complicadas de doutrina e filosofia do direito. Em uma série de brilhantes artigos, ele analisou, historicamente e filosoficamente, as questões complicadas da causalidade jurídica, culpa, responsabilidade, propriedade, e fontes da lei. Desde o princípio, porém, ele insistiu em ver estas questões legais, como também questões de política e sociedade, no contexto de uma teoria mais ampla da natureza e destino do homem (antropologia), do ser e da ordem (ontologia), e do conhecimento e suas fontes (epistemologia). Nos anos 30 Dooyeweerd começou a elaborar sistematicamente e em detalhes estes três campos filosóficos para mostrar a sua importância na definição e solução de assuntos de lei, ciência política, sociologia, e muitas outras ciências. Primeiramente ele articulou suas visões em “A Crise de Teoria Política Humanística à Luz da Cosmologia e Epistemologia Calvinista (1931) (De Crisis der Humanistischen Staatsleer in het Licht eener Calvinistische Kosmologie en Kennistheorie [Amsterdã: 1931)]. Mas esse trabalho foi rapidamente eclipsado por sua revolucionária obra em três volumes, “A Filosofia da Idéia Cosmonômica” (1935-1936) [De Wijsbegeerte der Wetsidee (Amsterdã: 1935-36)]. Enquanto seus artigos de uma década antes tinham feito avanços apenas rudimentares nos ensinos Calvinistas tradicionais, as idéias e análises apresentadas nestes volumes posteriores eram contribuições profundas e originais, arraigadas no pensamento Calvinista. Eles permaneceram no centro de sistema filosófico do Dooyeweerd para o resto de sua vida. Sua obra nos quarenta anos seguintes era, em muitos aspectos, uma amplificação e aplicação das idéias seminais desenvolvidas neste período formativo. Ele ampliou sua antropologia e sua crítica de teorias tradicionais em uma série de artigos e revisões, e então em uma obra em três volumes, “Reforma e Escolasticismo em Filosofia” [volumes A5, A6 A7 das Obras Completas de Dooyeweerd]. Ele ampliou sua ontologia e epistemologia em vários artigos subseqüentes e em edições e traduções posteriores de sua “Filosofia da Idéia Cosmonômica”. Ao mesmo tempo, ele retomou seu tratamento detalhado das perguntas de lei, política, e sociedade com que ele começou sua carreira. Sistematizou muitos de seus conceitos de direito e política e “afiou” sua análise antiga da história de teoria legal e política em seu trabalho de dois volumes, “Enciclopédia de Ciência do Direito” [Encyclopacdie der Rechtswetenschap. Ele elaborou também sua teoria social em vários artigos e revisões nos anos 40 e 50. Um dos mais importantes dentre estes trabalhos é a obra “Dez Conferências de Sociologia”.

Dooyeweerd permaneceu um estudioso profundo e prolífico até à sua morte em 1977. No curso de sua vida, ele publicou mais de 200 livros e artigos, presidiu numerosas sociedades legais, filosóficas e simpósios, editou uma variedade de publicações acadêmicas e populares, e ensinou extensamente na Europa e América do Norte. Embora a novidade de suas idéias, e a acuidade de suas críticas,e ainda que outros pensadores tenham freqüentemente tornado o seu trabalho um objeto de controvérsia, Dooyeweerd conquistou o respeito e o louvor tanto de aderentes como de antagonistas. Ele foi um líder Cristão polivalente ganhando a atenção dos estudiosos em cada disciplina na qual buscou integrar fé e conhecimento.

Apresentação por John Witte Jr., na introdução de "Uma Teoria Cristã de Instituições Sociais" (Herman Dooyeweerd, trad. Magnus Verbrugge. 1986, Fundação Herman Dooyeweerd.) Traduzido do Inglês com permissão por Guilherme Carvalho.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Credos e Confissões I

No primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster assevera-se, que as Sagradas Escrituras do Velho e Novo Testamentos, tendo sido dadas por inspiração divina, são, para o homem em seu presente estado, a única regra de fé e prática toda suficiente. Tudo quanto o homem dever crer acerca de Deus e o dever que Deus requer do homem, se acham reveladas nas Escrituras, visto serem elas a Palavra de Deus. Portanto, esta Divina Palavra é o único padrão de doutrina que contém autoridade intrínseca que obriga a consciência humana nas mais variadas esferas. Todos os demais padrões são de valor e autoridade somente naquela proporção que tange às doutrinas que as Sagradas Escrituras ensinam.

Contudo, enquanto que as Sagradas Escrituras são de Deus, a compreensão das mesmas pertence aos homens. Desse modo, os homens devem interpretar cada parte específica das Sagradas Escrituras, separadamente, fazendo o melhor uso possível de sua limitada capacidade, e então combinar tudo o que as Sagradas Escrituras ensinam sobre cada tema num todo consistente, e então adaptar seus ensinos aos diferentes assuntos em mútua consistência como as partes de um harmonioso sistema. Cada homem que estuda a Bíblia deve fazer isso; e tudo faz crer que o fazem, mediante os termos que utilizam com freqüência em seus discursos religiosos e em suas orações particulares e públicas, quer admitam quer neguem a propriedade e autoridade dos credos e confissões humanos. Caso estes rejeitem o auxílio e a assistência oferecidas pelas afirmações doutrinais elaboradas e definidas tardiamente pela Igreja, então terão que elaborar seu próprio credo fazendo uso de sua limitada e por vezes confusa sabedoria. A questão real não é como às vezes se pretende colocar, entre a Palavra de Deus e o credo humano, mas entre a fé investigada e provada da corporação coletiva do povo de Deus e o juízo individual e a sabedoria isolada e sem assistência, daquele que repudia os credos e as confissões.

É um fato que a Igreja tem avançado lentamente em sua tarefa de apresentar uma interpretação acurada das Sagradas Escrituras e a definição rigorosa das grandes doutrinas que compõem o sistema lógico de verdades que elas revelam. Em geral, a atenção da Igreja tem estado dirigida ao estudo de determinada doutrina em determinada época. Assim ela tem em diferentes períodos registrado uma declaração acurada dos resultados de suas novas realizações num Credo ou Confissão de Fé, com o propósito de preservação e instrução geral. Entretanto, em todas as ocasiões surgiram hereges pervertendo as Sagradas Escrituras, exagerando certos aspectos da verdade e negando outros igualmente essenciais, transformando a verdade de Deus em mentira. Nestas ocasiões a Igreja é forçada, seguindo o princípio de autopreservação, a formular definições rigorosas de cada doutrina deturpada, em particular levando-a a incluir toda verdade e a excluir todo o erro; e a fazer exibições tão amplas dos sistemas das verdades reveladas como um todo, que nenhuma parte delas seja ou indevidamente diminuída ou exagerada, senão que a verdadeira proporção do todo seja preservada. Ainda ao mesmo tempo, deve-se fazer provisão para a disciplina eclesiástica, e assegurar a genuína cooperação daqueles que professam trabalhar juntos na mesma causa; de tal modo que aqueles que ensinam publicamente, numa só comunhão, não venham a contradizer-se mutuamente, lançando alguém por terra aquilo que o outro se esforçou, às vezes, penosamente para construir. Deve-se também, preparar formulários revestidos de autoridade e representando quanto possível o consenso geral para a instrução dos membros da Igreja, especialmente as crianças.

Credos e Confissões têm sido necessários em todas as épocas e em todos os ramos da Igreja, e, quando não usados erroneamente são de grande valia, tendo os seguintes propósitos: (1.) Delimitar, disseminar e preservar o conhecimento da verdade cristã, em quaisquer crises de seu desenvolvimento. (2.) Fazer uma discriminação entre a verdade cristã e as glosas dos falsos mestres, bem como apresentá-la de forma integra e nas devidas proporções. (3.) Desenvolver as bases da comunhão eclesiástica entre aqueles que concordam ao máximo em labutar juntos em harmonia. (4.) Serem um instrumento para o ensino popular.

Devemos lembrar que a matéria ou conteúdo desses Credos e Confissões obriga as consciências humanas até onde for integralmente bíblica e enquanto for assim; e no tocante à forma na qual tal matéria for expressa, só obriga aqueles que voluntariamente subscreverem a Confissão e em virtude de tal subscrição.

Ainda, em todas as igrejas, se faz uma distinção entre os termos sobre os quais os membros privativos são admitidos à membresia e os termos sobre os quais os oficiais são admitidos às suas sacras responsabilidades do magistério e governo. A Igreja não tem o direito de fazer no que diz respeito à membresia qualquer condição que Cristo não fez no tocante à salvação. A Igreja é o redil de Cristo. Os sacramentos são os selos do seu pacto. Todos têm direito a reivindicar admissão se fazem uma genuína profissão da verdadeira religião; isto é, tantos quantos professam ser o povo de Cristo. Tal profissão de fé, naturalmente envolve um competente conhecimento das doutrinas fundamentais do Cristianismo; uma declaração de fé pessoal em Cristo e consagração ao seu serviço; uma disposição mental e hábitos consistentes e coerentes com a mesma. Em contrapartida, ninguém pode ser induzido a qualquer ofício, em qualquer Igreja, se não professa crer na veracidade e sabedoria da constituição e leis as quais serão seu dever conservar e administrar. Do contrário, toda a harmonia de sentimento e toda a eficiente cooperação no interagir seriam impossíveis.

José André Lourenço

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O INFINITO E O FINITO: Uma oração puritana

TU, GRANDE EU SOU,
Enche minha mente com a elevação e grandiosidade de pensamento de um Ser para quem um dia é como mil anos, e mil anos como um dia, O Deus poderoso que transpõe o tempo, e a queda dos impérios, sem sofrer qualquer variação, sendo glorioso em imortalidade.
Regozijo-me porque enquanto os homens morrem o Senhor vive; porque enquanto todas as criaturas são caniços quebrados, cisternas rotas, flores murchas, relva seca, ele é a rocha eterna, a fonte de águas vivas.
Livra meu coração da vaidade, da insatisfação, das incertezas da vida presente, para um interesse pelo que é eterno em Cristo.
Faz-me relembrar que a vida é curta e imprevisível, e é somente uma oportunidade de servir; Dá-me uma santa avareza para remir o tempo, para despertar a cada chamado da caridade e piedade, de modo que eu possa alimentar o faminto, vestir o desnudo, instruir o ignorante, recuperar o viciado, perdoar o ofensor, difundir o evangelho,mostrar amor fraternal a todos. Faz-me viver uma vida sem presunção, na tua dependência, em mortificação, crucificação e oração.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Extraído de: The Valley of Vision:
A Collection of Puritan Prayers & Devotions
,
organizado por Arthur Bennett, p.104.